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Velas do Autoamor - Essa é a minha versão, qual será a sua?

As Velas do Autoamor possuem um significado único na vida de cada pessoa. Cada indivíduo atravessa processos distintos ao longo da jornada, e ninguém está imune aos momentos de dor e sofrimento. [...]

No entanto, somente aquele que encontra meios de içar as velas propulsoras do amor-próprio, permitindo a continuidade do movimento da vida, é capaz de alcançar o destino planejado ou esperado.

Ao longo dos meus 40 anos de existência, tive muitos planos e sonhos que acreditava serem possíveis de realizar. Alguns foram concretizados, outros nem chegaram a ser iniciados, e tantos outros se transformaram em verdadeiros pesadelos. Tive que lidar com as partidas de pessoas queridas, com minhas próprias limitações e com expectativas inalcançáveis de um futuro justo para todos. O fato é que, independentemente de onde estejamos – seja em um país de primeiro mundo ou no Brasil dos miseráveis – sempre haverá provações.

Estamos vivendo o ápice da maldade humana, da desinformação e do egoísmo. Tudo parece perdido e fora de controle. Estamos aprendendo que ter um amigo verdadeiro vale mais que toda fortuna do mundo, e o quão valioso é receber uma palavra de alento e esperança em meio a esse caos materialista que nós mesmos provocamos, ignorando o verdadeiro sentido da vida.

Certamente, em algum momento da vida, erramos e ferimos de alguma forma pessoas próximas e até mesmo desconhecidos. Nos culpamos por tantas coisas, até mesmo por aquilo que não poderia ser evitado, algo que, de uma forma ou de outra, teria que acontecer.

Aquilo que é de fato nossa responsabilidade deve ser lembrado, para que não cometamos o mesmo erro. No entanto, não devemos nos recordar com o intuito de lamentar o ocorrido e nos culpar eternamente. Todos erramos, caímos e nos levantamos – esse é o processo de aprendizado da vida.

Não há nada mais forte e necessário do que perdoar a si mesmo e se amar! Não espere o perdão dos outros – isso cabe a eles, não a você. Quem não perdoa seu semelhante sofre muito mais que pela própria ofensa, pois, além da dor causada, carrega consigo o rancor e a amargura que envenenam o corpo e a alma.

Entenda que também não é nossa obrigação mudar a forma de pensar das pessoas, nem mesmo das mais próximas, aquelas do nosso convívio familiar e social. Jesus de Nazaré, apesar de sentir as dores da alma, não cerceou nosso livre-arbítrio. As leis dos homens nos obrigam a seguir regras, mas optamos por segui-las ou não, e somos responsáveis pelas consequências das nossas decisões. Assim são as leis do mundo espiritual: podemos optar por segui-las ou não. No entanto, diferentemente das leis dos homens, elas são perfeitas e justas, não havendo espaço para distorções ou interpretações convenientes.

O aparente caos em que vivemos, que julgamos sem solução, é apenas o reflexo natural da nossa ignorância e falta de amor-próprio. Colocamos nosso ego em um pedestal e, por não compreendermos o verdadeiro sentido da vida, entorpecidos pelos prazeres momentâneos e guiados pelos valores equivocados da matéria, atropelamos nossa essência, que é o amor. Amar também é perdoar, ter compaixão e ser caridoso. Vale ressaltar que caridade não é dar esmola, emprego ou dinheiro para comprar picanha e cerveja. Definitivamente, não! Caridade é oferecer o necessário às almas em sofrimento, ser justo e fazer o bem a todos, até mesmo àqueles que nos ofenderam.

A vida me deu diversas oportunidades de exercitar o perdão. No entanto, admito que, na maioria delas, não foi nada fácil, e por não estar preparado, fracassei inúmeras vezes. Entre essas oportunidades, acredito que o mais difícil tem sido perdoar a mim mesmo.

A vida é feita de escolhas, e a mais infeliz que fiz foi me tornar policial militar. A exemplo dos soldados romanos que usavam a violência para coagir o povo a se submeter à sua vontade, os policiais de hoje usam a força para manter um sistema fadado ao fracasso, que terceiriza sua responsabilidade sem impedir a continuidade da violência e da criminalidade, fortalecendo, a cada dia, a sensação de insegurança e injustiça. Essas aparentes injustiças do mundo criam no imaginário humano justificativas aparentemente plausíveis para que nos tornemos justiceiros, agindo à margem da lei e utilizando a violência para reparar as injustiças do passado. No entanto, isso apenas perpetua o sofrimento, inclusive para nós mesmos.

Todo aquele que se julga injustiçado carrega consigo dívidas do passado das quais ignora e age sem clemência contra aqueles que julga culpados. Isso gera um ciclo de violência difícil de romper. Não foi por medo que Jesus de Nazaré mandou seu discípulo guardar a espada:

"Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão." (Mateus 26:52)

Na narrativa bíblica, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou a espada e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.

Anos se passaram e a história continua a se repetir, num ciclo infernal de dor e sofrimento, e continuará assim por gerações até que consigamos realizar nossa reforma íntima, substituindo nossos instintos animalescos por atos racionais pautados na compaixão e no perdão. Só assim conseguiremos alcançar o status de mundo de regeneração, deixando para trás o mundo caótico de expiação e sofrimento em que vivemos.

À primeira vista, pode parecer absurdo o ensinamento de Jesus de que devemos arrancar os membros do corpo que nos fazem pecar para alcançar o reino dos céus. Apesar do extremismo das palavras, ele queria dizer que devemos nos despojar de tudo aquilo que nos desvia do caminho do amor, do verdadeiro sentido da vida. Afinal, tudo o que carregamos nesta jornada é passageiro, e nada levaremos além dos nossos sentimentos e do nosso progresso moral, devidamente registrados em nosso ser, espíritos imortais que somos.

Na metáfora de Jesus, "arrancar uma mão" pode ser interpretado como afastar de nós tudo o que nos mantém no erro. Nesse contexto, pode significar abandonar a arma que se usa para matar, a ganância que leva a explorar o próximo, ou o ego que faz sobrepujar os subordinados.

Não nos cabe mudar o mundo, mas temos a escolha de içar as velas propulsoras do amor-próprio, permitindo nossa evolução como seres de luz na Terra. E, assim como Jesus de Nazaré, nosso modelo e guia, podemos promover o bem na Terra através do exemplo que arrasta multidões.

Nova Venécia-ES, 04 de outubro de 2024.

 

Com a certeza de que tudo passa, menos Deus, sigamos em paz, confiantes de que, no fim, a Luz vencerá as trevas.

Rafael Cremasco Lacerda